O Futuro do Rádio.
Por muitos anos, um pequeno grupo de “futurólogos” pregava o
fim de determinadas formas de comunicação, toda vez que uma novidade
tecnológica surgia. Várias possíveis vítimas já foram apontadas e o rádio —
dado o seu grande alcance e tradição — sempre foi um dos alvos preferidos
dessas profecias. Esses teóricos caíram em descrédito quando se comprovou —
pela experiência prática em todos os principais países do mundo, incluindo o
Brasil — que a evolução na forma de transmissão e consumo de conteúdo não é
sinônimo de extinção de linguagens de comunicação. Assim, o rádio deixou de ser
visto como uma mídia em queda e passou a ser encarado por investidores,
anunciantes, profissionais e consumidores finais como um exemplo de renovação e
bom aproveitamento das muitas novidades técnicas que apareceram principalmente
nas últimas três décadas. E mais: as novas tecnologias não apenas ajudaram na
expansão do rádio como reforçaram vocações já possuídas por ela desde muito
tempo.
O tão falado futuro do rádio, na verdade, começou com o
advento do FM, que dobrou o número de emissoras até então existentes — com
elevação da qualidade do som — e, com isso, aprofundou uma forte característica
dessa mídia: a sua alta capacidade de segmentação. Seja a partir do foco num
determinado estilo de programação ou perfil de público, o rádio consegue
oferecer soluções para os anunciantes que muitas outras mídias não conseguem.
Outro passo importante foi dado com a chegada dos satélites,
que permitiu a formação de redes nacionais e, com elas, a viabilização
econômica de diversas emissoras de pequeno e médio porte em todo o país, dando
novos contornos ao processo de integração nacional iniciado pelo rádio e
posteriormente aprofundado pela televisão.
A popularização da Internet, maior argumento empregado pelos
“futurólogos” citados no começo deste texto, acabou beneficiando o rádio sob os
mais diversos aspectos:
• Trouxe de volta muitos ouvintes jovens que haviam perdido
o hábito de usar aparelhos de rádio;
• Ilimitou o espaço para empresas ou mesmo pessoas comuns
lançarem novas estações, transformando a Internet num campo livre para o surgimento
de novas músicas, locutores, programas e marcas que podem até, no futuro,
ganhar espaço nos dials;
• Permitiu que os ouvintes de rádios com baixa qualidade de
sinal pudessem ouvir um som mais limpo através dos seus computadores;
• Reforçou a interação que sempre existiu entre o
locutor/comunicador e o seu público, que passou — através de e-mail, de salas
de bate-papo e de redes sociais — a interferir instantaneamente na programação;
• Fez estações locais do mundo todo ganharem uma audiência
mundial, ampliando o potencial de internacionalização que o rádio sempre teve e
que é o objeto principal da paixão de pessoas como os dexistas — aqueles que,
através dos seus aparelhos receptores, procuram ouvir programações dos lugares
mais distantes.
A telefonia móvel — cujas ondas prejudicam, especialmente
nas grandes metrópoles, a transmissão das ondas de rádio — também acabou
ajudando as rádios em FM, pois, hoje em dia, praticamente todos os celulares
recebem essas estações.
A chegada do rádio digital ao Brasil poderá possibilitar
novos avanços, apesar das discussões em torno da robustez do sinal e do alto
preço dos receptores. O rádio, cada vez mais, será encarado como uma “central
de convergência de mídias”, onde, juntamente com o áudio, o ouvinte poderá
receber textos e até fotos. No novo sistema, o som das emissoras AM recebe
qualidade de FM e as FMs ganham som de CD. Cada frequencia poderá ter até
quatro programações simultâneas, o que aumentaria — e muito — a audiência
alcançanda, a variedade de opções para o anunciante e, por conseguinte, os
empregos gerados pelo setor.
Há também o rádio por assinatura via satélite, que é uma
realidade bem-sucedida nos Estados Unidos. A Sirius, líder deste mercado,
oferece mais de 130 canais de áudio digitais, com programações muito variadas,
vinculadas à marcas importantes (como Disney, CNN, Fox, BBC, Playboy, Oprah e
NFL) e com som impecável para os seus quase 20 milhões de assinantes.
Com toda essa evolução, vale a pena pensar: se o rádio está
crescendo e se expandindo para novas plataformas, como será que as emissoras
devem se posicionar enquanto marcas e negócios? A resposta está naquilo que o
rádio verdadeiramente oferece e vai além de qualquer discussão relacionada com
tecnologia de transmissão ou recepção de sinal — afinal, isso muda o tempo
todo.
Quando realizam-se pesquisas com o objetivo de detectar
aquilo que os ouvintes sentem com relação à uma emissora, uma palavra sempre se
destaca: pertencimento. A sensação de que aquela programação é feita “sob
medida”, reforçada com a forte interatividade promovida tanto dentro quanto
fora do ar, despertam no ouvinte a ideia de que aquela emissora “é dele” e que,
através dela, ele pertence a um grupo especial de pessoas. Essa identificação,
mais forte no rádio que em outras mídias, é a base que constrói uma audiência
fiel e confiante para consumir não apenas os conteúdos oferecidos pela emissora
como também os produtos anunciados nos seus espaços comerciais, afinal,
fidelidade também envolve credibilidade: algo primordial para a obtenção de
resultados junto aos ouvintes.
Como se vê, mais do que vender tempo, uma rádio vende — e
promove — relacionamento, seja entre pessoas, seja entre pessoas e empresas.
Todos os grandes grupos de comunicação do mundo já atentaram para isso e estão
trabalhando suas estações como marcas que promovem uma nova gama de
relacionamentos e formas de transmissão de conteúdo que vão além, inclusive, da
própria programação e se tranformam, por exemplo, em eventos, mensagens de
texto para celular, colunas em jornais, portais na Internet e até programas de
TV, sendo tudo sustentado por grifes multimídias que nasceram no rádio e que,
de tão fortes, expandiram suas fronteiras de atuação.
As rádios — graças a toda a essa sensação de pertencimento
falada anteriormente e as novas formas de distribuição que surgem a todo
momento — tem atuado como líderes dessa nova forma de pensar e gerir negócios
de mídia, o que reforça a sua importância para os tempos atuais e abre caminhos
para um futuro baseado na convivência entre todas as linguagens de comunicação
integradas a partir de marcas posicionadas em pontos estratégicos da mente e do
coração dos ouvintes, leitores, internautas etc.
Texto reproduzido do site: fernandomorgado.com
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