quarta-feira, 29 de novembro de 2017

Entrevista com Carlos Alberto Sardenberg

Foto extraída do YouTube e postada pelo blog
 "Sintonia Radiofônica",  para ilustrar a presente postagem.

Trechos de entrevista com Carlos Alberto Sardenberg, âncora do jornal CBN Brasil

Por Vinicius Matos.

(...) Sardenberg chama a atenção pela quantidade de funções que exerce. É comentarista econômico e âncora do programa CBN Brasil, além de comentarista do portal TV Terra, colunista do caderno de economia do jornal "O Estado de S.Paulo" e do jornal "O Globo". Seu currículo não deixa nada a desejar. Foi comentarista econômico da TV Cultura e apresentador do telejornal da "Gazeta Mercantil" até dezembro do ano passado. Trabalhou ainda nas revistas "Veja" e "IstoÉ". Foi titular da coluna Informe Econômico e diretor da sucursal do "Jornal do Brasil" em São Paulo. Foi também diretor de jornalismo da Rede Bandeirantes de Televisão.

A maior parte de sua carreira passou em São Paulo (SP), mas trabalhou durante seis anos em Brasília (DF). De 1985 a 87 foi coordenador de comunicação social do Ministério do Planejamento. Fez diversas coberturas no exterior. Com a experiência que adquiriu trabalhando no governo pode escreveu dois livros, "Aventura e Agonia nos Bastidores do Cruzado", uma reportagem sobre a criação, preparação e lançamento do Plano Cruzado. O livro esteve na lista dos dez mais vendidos na revista "Veja". Ainda escreveu "Jogo Aberto", reportagens e entrevistas sobre o Plano Bresser (1987)... 

Como o senhor começou no jornalismo?
Não foi bem por acaso. Foi por uma circunstância política. Estava estudando na faculdade, fazia curso de direito e filosofia. Dava aula em cursinho de história, filosofia e conhecimentos gerais. Já estava no último ano da faculdade, me formando e fazendo monitoria. E teve aqueles acontecimentos de 68/69. O AI-5 em 1968. A ditadura ficou mais forte. Os professores com os quais eu ia trabalhar na faculdade de filosofia da USP [Universidade de São Paulo] foram cassados e mandados embora, inclusive Fernando Henrique Cardoso. Para resumir eu não podia ir mais na faculdade. O resultado foi que não pude pegar meu diploma de filosofia e também não podia dar aula no cursinho, então fiquei sem emprego e sem carreira. Foi nesse momento que um amigo do meu pai que era jornalista na "Veja" [revista], falou: "estão precisando de gente no "Estadão" [jornal O Estado de S. Paulo]. Daí eu fui pro "Estadão". Cheguei lá, me apresentei e me mandaram escrever umas notícias. Na época o repórter era repórter mesmo, não precisava de texto, daí eu escrevi umas três ou quatro matérias, umas notas e entreguei para o editor. Ele falou: "está bom, você pode começar a semana que vem?". A gente recebia matérias dos repórteres, reescrevia, colocava no tamanho, fazia título. O salário de jornalista era bom, lembro bem disso. Sempre tive uma cabeça política, interesse público e quando eu caí no meio daquela agitação da redação do "Estadão" fiquei fascinado. Passaram-se alguns anos, todo mundo foi anistiado, na escola me chamaram para voltar, mas desisti e continuei no jornalismo.

O senhor sempre teve esse envolvimento com o jornalismo econômico e político?
Na verdade não. Eu comecei no jornalismo econômico depois de 1985, quando saí do governo. Por acaso fui trabalhar na Secretaria da Fazenda no Ministério do Planejamento, e aí eu desenvolvi esse conhecimento em economia. Eu tinha de escrever os documentos do Ministério da Fazenda e do Ministério do Planejamento sobre reforma econômica. Quando chegou mais ou menos 1982, o MDB [PMDB] ganhou a eleição para governador em todo o país. O pessoal que era da oposição começou a pensar o seguinte: "o regime militar está morto, está com os dias contados. O que nos vamos fazer lá [no governo]?" Começou dentro das oposições um debate muito grande sobre políticas econômicas. A situação econômica estava muito ruim. A questão era "o que a oposição vai fazer quando chegar ao poder". Então grupos de economia começaram a se reunir e preparar documentos. Acabei me envolvendo com um grupo que ficava em torno da Secretaria da Fazenda, João Saiad [ministro do Planejamento na gestão de José Sarney] e vários outros economistas. Um dos meus papéis era redigir os textos. Era difícil porque tinha de falar de inflação inercial, correção monetária, reforma monetária, troca de moeda, apresentar isso para Ulisses Guimarães, Fernando Henrique.

Como o senhor começou a ancorar o programa CBN Brasil?
Eu era comentarista [da rádio CBN], aí saiu o cara que fazia o programa do meio-dia às 14h. A audiência estava baixa. O diretor da rádio me liga e me diz assim: "olha, aqui estamos aqui com uma ideia, mas como é uma ideia meio diferente eu vou te fazer proposta, mas não responda, pensa um pouco, porque se você responder na hora acho que você vai dizer não". [Perguntou:] Mas o que é? [O diretor respondeu] "Que você ancorasse o programa do meio-dia às 14h eu sei que você nunca fez isso é uma novidade, sei que o programa vai ter um viés econômico, mas isso não nos incomoda, então pensa depois você fala". Daí eu falei: "eu topo". [Depois] Eu fiquei meio em dúvida: "vai ser um fiasco ou não vai, comentei com minha mulher"? Falei para ela: "vou ficar lá de âncora". E ela me falou: "você vai ficar duas horas no ar para falar o que você acha? Eles vão te pagar por isso? Isso é uma maravilha!". Fui para o Rio [de Janeiro], conversamos, discutimos. Tinha uma deficiência grave de locução, interpretação do noticiário. Fiz treinamento bom, forte, na CBN. A coisa que eu mais gosto de fazer é um programa de rádio.

Como é adequar esse discurso econômico, que é muito difícil, para esse público tão amplo?
É uma coisa meio complicada. Você não pode ficar vulgar e banalizar demais, porque perde o público elite, que é o que interessa. Também não pode ser muito técnico senão perde o outro público. Então você tem de usar o meio termo, acho que faço bem isso inclusive com os entrevistados (...)

Trecho reproduzido do site:  jornalmateriaprima.jex.com.br

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